24 de jun. de 2011

Mãos



     
     Quando eu cursava o casulo, no parquinho da minha escola tinha uma casinha de tijolos e cimento com um telhado muito precário, estrategicamente longe dos escorregos e balanços. Todos os dias a gente brincava de “casinha” com direito a marido e mulher.
     Quando eu comecei a cursar as primeiras séries do ensino fundamental me divertia aprendendo a escrever a palavra MACACO, minha palavra preferida. Nos Sãos Joãos desses anos me revoltava porque não queria dançar com alguns “fulanos e cicranos de taos” E minha professora insistia em me socializar com eles.
      Os anos se passaram e tornei-me mais inteligente academicamente se referindo. Comprei um caderno do grande. Abandonei a bolsa da Barbie. Comecei a usar mochila, com o mesmo cheiro de chiclete que me fascina. Fui expulsa da aula de história. Fui ameaçada porque ria muito pelos corredores, condenada a ser espancada na frente da cantina. Fui alvo de tantas bolas de matadas, fui alvo de tanta matança.
     Aprendi a jogar, a ter força, a ter voz alta. Aprendi a falar em códigos, a rir de quem me ameaçava. Quase aprendi a nadar.
     Um ano depois aprendi a tentar ser inteligente e a continuar tentando. Tornei-me mais animada, mais boba, mais infantil, mais madura. Gostei de ouvir. Sempre gostei de falar.
     Hoje gostei de ter vivenciado tudo isso. Mas não vivencio mais. O que vivo não merece ser relatado em letras georgia 12. O que eu vivo não é digno de ser mencionado.  O que não é digno de ser dito é abafado e eu tenho medo de ser sufocada. Não sufocada por amores, por indecisão, nada ligado a isso. Sufocada pela minha fraqueza de ter medo de lutar pela minha felicidade.
     Sufocada pela paralisia de minhas próprias mãos.

2 comentários:

Hoje a madrugada está proporcionando o clima adequado para uma entrega inteira aos meus devaneios, aos meus cadernos e as minhas cifras....